Em poucas horas uma estranha epidemia se espalhou rapidamente pela cidade. Os infectados aparentam perder todas suas emoções e capacidade de raciocínio, e tomados por uma compulsão misteriosa passam a vagar pelas ruas em grandes grupos. Ao encontrarem pessoas não contaminadas, os “sem vida” assumem comportamento agressivo e buscam a todo custo devorar os que ainda não foram assimilados e perderam sua individualidade.
Refugiado em um depósito abandonado, um pequeno grupo de pessoas luta pela sua sobrevivência e procura entrar num acordo sobre qual seria o melhor caminho para preservarem suas vidas. Confinados e acuados, com suas vidas em jogo, do que podem ser capazes os seres humanos?
O conceito de mortos devoradores de vivos está presente na mitologia, no folclore e na literatura de inúmeras civilizações, do Draugr nórdico ao Jikininki japonês. São citados no mais antigo texto literário conhecido, a Epopeia de Gilgamesh, onde a deusa Ishtar proclama: “Destruirei os portões do Inframundo, (…) trarei os mortos para cima para se alimentarem dos vivos, e os mortos serão mais numerosos que os vivos!”. Em 1968 o cineasta George Romero levou-os até o cinema com o filme “A Noite dos Mortos Vivos”, onde foram usados como metáfora de uma sociedade desumana, cada vez mais frenética em seu consumismo e cada vez mais isenta de sentido em suas ações, subsumidas pelo processo de massificação resultante da modernidade.
Através dessa metáfora a peça “Os mortos caminham lá fora” procura levantar reflexões sobre a individualidade e os rumos da sociedade moderna. Para onde estamos indo? Quem são os mortos-vivos de nossa contemporaneidade? E qual é o fenômeno que, cada vez mais veloz, os torna assim? Haverá um lugar onde possamos escapar à assimilação de um sistema social que esgota a humanização do homem?
Nos últimos anos os zumbis invadiram a cultura pop através de jogos, séries de TV e filmes, com direito a encontros que reúnem milhares de participantes, as Zombie Walks. “Ficamos mais interessados em zumbis nos momentos em que, como cultura, nos sentimos impotentes. Quando vivenciamos uma crise econômica, a maioria da população se sente desestimulada. E simular um zumbi ou ver uma série como ‘The Walking Dead’ serve como uma válvula de escape para as pessoas” revela em seu doutorado a pesquisadora americana Sarah Lauro, professora da Universidade Clemson, na Carolina do Sul.
A peça foi escrita em 2004 por Robert Coelho, que também dirige o espetáculo. “Sempre curti muito filmes de zumbis e na época em que escrevi o texto ainda não tinha virado modinha o tema. Alguns filmes já tinham abordado o universo de uma maneira diferente e procurei trazer isso para o teatro. Chegamos a ensaiar e quase levantar o espetáculo todo, mas infelizmente tivemos que cancelar tudo por motivos de agendas e compromissos do elenco com vestibular e trabalho.”, revela o diretor. “Este é o segundo espetáculo que realizamos este ano para levantar fundos para a Associação Teatral Notívagos Burlescos. O primeiro foi a remontagem de Dorotéia e os Farsantes e ainda teremos mais um, Vida Imbecil, que deve estrear em Outubro.”
Em função do formato de arena em que a peça foi montada, apenas 100 ingressos estarão disponíveis para a apresentação. “A plateia estará dispostas dos dois lados do espaço cênico, formando um grande corredor. A ideia foi criar essa atmosfera claustrofóbica em que os personagens se encontram, escondidos nesse depósito, tornando tudo mais intimista.”, explica Robert.
OS MORTOS CAMINHAM LÁ FORA
No Teatro Municipal Camillo Fernandez Dinucci
Elenco Anderson Almeida, Bruna Stamponi, Danilo Batista, Dja Deise, Marcelo Magalhães e Sulamita Michenin.
Texto e Direção Robert Coelho
Figurinos Amanda Angelo
Contra regra Matheus Pessoa
INGRESSOS: 20 Reais (Inteira) – 10 Reais (Meia)
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