Trio leva sambas rurais de Raul Torres a grandes centros

Cultura
Trio leva sambas rurais de Raul Torres a grandes centros 08 janeiro 2016

Trabalho do grupo mostra a versatilidade de Raul Torres que também fazia samba-choro, sincopado, carioca, porque ele era um artista de rádio, onde recebia influência do samba do Rio, de Noel Rosa e Ismael Silva

 

O jornal Correio Popular, de Campinas, fez uma matéria sobre o Trio Gato com Fome formado por Cadu Ribeiro (voz e pandeiro), Gregori Andreas (voz e cavaquinho) e Renato Enoki (voz e violão 7 cordas), que lançou o CD “Em Busca dos Sambas de Raul Torres”, que resgata os sambas rurais do compositor de Botucatu. O título já remete ao longo processo de pesquisa para elaboração do projeto, ,que está sendo levado a grade centros.

Isso porque a obra de samba de Torres — um dos principais nomes fundadores da música caipira — é (ou era) desconhecida até mesmo para os músicos, que dirá para os meros mortais. Demandou um ano de pesquisa.  Em entrevista ao Caderno C,  do jornal campineiro, Cadu revela os passos e os principais desafios do projeto.

“O primeiro foi descobrir as músicas, depois ir atrás para ouvir. Edson Nogueira, de Botucatu, um pesquisador da obra dele, nos forneceu alguns CDs. Buscamos também na discoteca do Centro Cultural de São Paulo e no acervo de Assis Ângelo, importante pesquisador. Aí tivemos que ‘decifrar’ as letras porque a gravação naquela época era muito ruim. E a Magnólia Torres, filha de dele, nos cedeu letras e partituras”, conta.

A época a que o cantor se refere está situada entre as décadas de 30 e 40, quando o próprio Torres gravou tais canções.

“Achamos algumas regravações dele mesmo, nos anos 50, tem A Cuíca Tá Roncando, que foi regravada por Caco Velho em 1960, e Malandro da Barra Funda, que Tião Carreiro regravou em 1979. As outras são bem desconhecidas. Tivemos a dimensão disso quando fomos fazer o documentário, conversando com outros músicos”, diz, referindo-se, principalmente, às participações especiais dos disco: Caçulinha (acordeon), Miltinho Edilberto (viola), Milton Mori (violão tenor), Nailor Proveta (clarinete), Oswaldinho do Acordeon, Paulo Dias (tambu) e Osvaldinho da Cuíca.

Este último requer atenção especial, pois foi ele quem levou ao conhecimento do trio a existência dos sambas.

“Conhecíamos, através do Osvaldinho, a música A Cuíca Tá Roncando, que foi gravada em 1934 e virou sucesso em 35. E, conversando com ele, soubemos que Torres tinha outros sambas. Fomos descobrindo muitas músicas boas. Raul Torres era muito versátil. Também fazia samba-choro, sincopado, carioca. Carioca porque ele era um artista de rádio, onde recebia influência do samba do Rio, de Noel Rosa, Ismael Silva. E por outro lado tinha o samba rural paulista, da viola, do campo, como Mineirinha, Mariazinha Criminosa e Bananeira. Mário de Andrade aponta em seus estudos Bananeira como a melhor representante do samba rural”.

Para a regravação das músicas pelo Trio Gato com Fome, Cadu afirma que houve a preocupação em respeitar a melodia original, mesmo porque são “quase inéditas”, e colocaram sua identidade nos arranjos. Respeitando o samba rural paulista”, afirma. Segundo ele, “esse gênero de samba não teve as transformações do carioca, que o tornaram um samba urbano com outras influências”.

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