O filme “Estranha Cotoveladas” conseguiu junto à Agência Nacional do Cinema (Ancine) o reconhecimento como um produto de exportação
Um triângulo amoroso ambientado no cenário rural, que discute, além das impossibilidades e dinâmicas do amor, o agronegócio e a agricultura orgânica e sustentável. Essa é a proposta do filme “Estranhas Cotoveladas”, gravado em Botucatu e Pardinho, no interior de São Paulo, e que tem planos de distribuição internacional.
O filme, conduzido por mais de 200 profissionais e atores da região, conseguiu junto à Agência Nacional do Cinema (Ancine) não só o Certificado de Produto Brasileiro (CPB), como também o reconhecimento como um produto de exportação.
“Ficamos muito orgulhosos disso, claro, e estamos preparando a carreira internacional do filme. Temos agendado para 31 de agosto a exibição do filme para distribuidores franceses, num evento na Cinemateca Brasileira”, revela Reinaldo Volpato, produtor, diretor e roteirista do longa-metragem.
Na trama, o público conhece a história da filha de um usineiro, que acaba de iniciar sua residência médica; seu namorado, que acaba de assumir as empresas da família no ramo do agronegócio; e um engenheiro agrônomo que investe na agricultura orgânica. Eles moram em Torre de Pedra e vivem as dinâmicas de um tradicional triângulo amoroso, tendo como plano de fundo o interior e os costumes inerentes à região.
No centro-oeste paulista, locais como a fazenda de bambus e um centro cultural, em Pardinho, e o Hospital das Clínicas (HC) de Botucatu estão presentes na produção e fortalecem a conexão entre o realizador do filme, a obra e o público.
“Sou nascido e criado no interior paulista e essas opções são centrais na minha carreira. Realizei muitos filmes e reportagens televisivas sobre a realidade interiorana e, para mim, são muito naturais essas locações. Morei em Botucatu por 10 anos na minha adolescência, minha família está em São José do Rio Preto desde o final da década de 1960 e isso me aproxima bastante destes assuntos tratados nos filmes”, comenta Reinaldo.
Outra característica regional presente na obra de Reinaldo Volpato diz respeito à escolha dos seus principais representantes do filme ao público, os atores. Na grande maioria, bem como parte da produção técnica, a equipe é formada por pessoas que viveram a realidade do interior de SP.
“Isso é uma característica do meu trabalho. Logo quando me profissionalizei, criei a ideia do ‘personagem sujeito’ em oposição ao personagem objeto, destacando que cada ator interpreta a si mesmo. É uma forma de dar uma substância distinta aos personagens e uma verossimilhança que os distingue do padrão internacional de interpretação cinematográfica. Trabalhar com atores regionais também cria uma possibilidade de renovação dos elencos disponíveis, caracterizando os personagens com bastante empatia”, revela o diretor.
Embora muitas vezes o interior seja associado a uma realidade mais pacata ou até mesmo de subdesenvolvimento em comparação aos grandes centros urbanos, Reinaldo tenta, mesmo com um filme ambientado em paisagens rurais, desmistificar esse pensamento que ainda permeia parte da sociedade.
“Quero destacar que o Interior de São Paulo não é mais provinciano quanto pensamos cotidianamente; somos há 10 anos o maior mercado produtor do Brasil e também o maior mercado consumidor. Produzimos mais de 50% do PIB brasileiro nas regiões sudeste e centro-oeste, também qualificada como região caipira ou Paulistânea. Há grande troca de opiniões, possibilidades de trabalho, pesquisas e estudos da atividade”, pontua.
Com um orçamento em torno de R$ 2 milhões e projeto iniciado em 2010, “Estranha Cotoveladas” é para o seu diretor “um empreendimento ousado” que resultou num filme dinâmico e original, com mais de duas horas de duração. Com a certificação da Ancine, o objetivo é inclui-lo numa campanha de lançamento comercial, bem como a presença em festivais de cinema.
“Estamos cuidando dos trabalhos de lançamento comercial, tanto no circuito oficial quanto no alternativo, além do streaming e televisões”, revela.
No Brasil, tão difícil quanto gravar e editar um filme, é convencer distribuidores. No entanto, Reinaldo acredita que originalidade das produções independentes brasileiras, como a abordada em em “Estranhas Cotoveladas” com valorização da cultura interiorana, pode abrir portas para o sucesso do filme em sua campanha de distribuição.
“A cinematografia brasileira tem forte presença no cenário internacional porque revela constantemente sua capacidade de inventar-se com ousadia e criatividade. Nossos roteiros não costumam seguir as orientações dos roteiros hollywoodianos, digamos, e isso dá uma personalidade genuína à nossa linguagem”, ressalta Reinaldo.
Ao povo do interior paulista, “Estranhas Cotoveladas” se coloca como um filme que transita em sua história, valores e cultura, e que busca dar relevância para questões como a solidariedade, a fraternidade, o amor e as relações humanas, provocando, por meio do cinema, uma possibilidade de entretenimento transformador e inteligente.
Fonte: g1
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