Com um vasto currículo nas áreas culturais e artísticas, o professor Everton de Oliveira Robe, está realizando um trabalho no Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente, ou Fundação CASA de Botucatu, como é mais conhecido, que tem como objetivo principal, buscar a reintegração de adolescentes infratores ? sociedade.
Com um perfeito entrosamento com a direção e amando aquilo que faz, Everton está rompendo barreiras do preconceito. Mesmo em regime de internação, os adolescentes participam de eventos fora da entidade, como festivais de música, espetáculos teatrais, exposições fotográficas e de pintura, entre outras coisas.
A entidade tem capacidade para atender 56 adolescentes e jovens na faixa etária compreendida entre 12 a 21 anos incompletos. São 16 vagas para medida de internação provisória e 40 para medida de internação. A reportagem do{n} jornal Acontece {/n}procurou Everton para que ele fizesse uma explanação geral do seu cotidiano de trabalhar com adolescentes infratores.
{n}Acontece – Inicialmente, Everton, fale um pouco sobre sua formação profissional.
Everton de Oliveira Robe – {/n}Tenho graduação em Letras e Artes Cênicas, especialização em Arte e Educação, pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Sou poeta e realizo uma pesquisa em linguagens, congregando ao meu trabalho literário as artes visuais, a música, o audiovisual e o teatro. Desse modo, tenho trabalhos desenvolvidos nessas áreas, além de inúmeras atividades em arte e educação com grupos em vulnerabilidade social.
{n}Acontece – Como começou essa sua inspiração para trabalhar com adolescentes infratores?
Everton – {/n}Desde minha formação, em Dourados MS, há 6 anos, venho trabalhando com grupos em vulnerabilidade social, tais como: freqüentadores do CAPS Centro de Atenção Psicossocial (usuários de álcool e drogas e pacientes psiquiátricos); jovens de reservas indígenas; crianças e adolescentes de regiões periféricas da cidade; além de idosos carentes. Já em Botucatu recebi um convite da CASA Botucatu para ministrar uma oficina de teatro a qual desenvolvemos desde março de 2009. O trabalho foi bem sucedido, então convidaram-me para fazer parte do quadro de educadores da instituição, desenvolvendo projetos na área de arte e cultura.
{n}Acontece – Quais são os trabalhos culturais ou cursos que você ministra aos internos?
Everton – {/n}Atualmente ministro as oficinas de Teatro, Técnicas de Pintura e Desenho Artístico, além de trabalhar na manutenção do Grupo Teatral Casa Cênica e do Grupo de Samba Tom Negro e ser responsável pela realização de eventos e mostras internos e externos.
{n}Acontece – Quando você é apresentado a um adolescente novato, qual é a sua primeira atitude em relação a ele, antes de iniciar um curso?
Everton -{/n} Procuro, ainda na Unidade de Internação Provisória, observar suas habilidades e áreas preferência e, caso receba a medida socioeducativa, buscamos encaminhá-lo para cursos de arte com os quais ele demonstre afinidades, para que ele possa exercer com prazer sua criatividade e sua sensibilidade crítica, artística e estética.
{n}Acontece – Como é o seu relacionamento com os diretores da entidade. Ou seja, você tem liberdade para desenvolver seu trabalho cultural e artístico com os adolescentes sem censura?
Everton – {/n}Trabalhamos em equipe e possuo grande admiração pelos responsáveis pela CASA Botucatu, por sua competência e grande experiência nos processos de recuperação de jovens em conflitos com a lei, além disso, nosso trabalho é guiado por eixos temáticos que são fundamentados no ECA – Estatuto da Criança e no Adolescente e SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo.
{n}Acontece – Conhecendo a personalidade de cada um dos adolescentes, você entende que a maioria pode ser recuperar e voltar a viver no convívio social? E mais: qual é sua reação quando recebe um adolescente que passou pelo estágio de internação e retornou ? entidade por reincidir na criminalidade?
Everton – {/n}Acredito que todo o trabalho realizado seja voltado ? recuperação desses jovens, para que eles possam efetivamente exercer sua cidadania no retorno a esse convívio. No entanto, perceba-se que devem ser considerados inúmeros fatores no caso de uma reincidência, tais como: estrutura e renda familiar, local onde reside, preconceito, entre muitos outros. Fico bastante entristecido quando acontecem tais casos de reincidência, pois acredito em meu trabalho e desejo, a cada um deles, uma vida com mais oportunidades.
{n}Acontece – Essa pergunta pode ser um tanto quanto ácida, mas necessária. Você tem medo de trabalhar com adolescentes infratores?
Everton {/n}- Não. Trabalho em um ambiente de educação onde há normas de convívio e segurança, além de que, como educador sempre tive muito respeito ? realidade dos educandos deixados sobre minha responsabilidade, isso se reverte em respeito para mim e ? s minhas atividades, as quais eles desenvolvem com bastante aplicação.
Fotos: Valéria Cuter