Artigo do Professor e Economista Paulo André de Oliveira
A inflação oficial do Brasil foi de -0,08% em junho de 2023. Inflação negativa é deflação. Se a inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços, a deflação é redução generalizada dos preços. Isto não significa que todos os preços caíram, mas que a média ponderada dos preços se reduziu.
A lógica para o cálculo da inflação é saber quanto cada item utilizado no cálculo tem de importância na renda das famílias. No IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o grupo da habitação tem peso 15,16% na renda das famílias, despesas pessoais 10,6%, vestuário 4,80%, transporte 20,84%, artigos para residência 4,02%, alimentação 18,99%, saúde e cuidados pessoais 13,46%, educação 5,95%, comunicação 6,19%. Estes percentuais foram obtidos por meio de uma grande pesquisa de orçamento familiar (POF), feita pelo IBGE, que apura os hábitos de gastos das famílias brasileiras de tempos em tempos, a última foi em 2018 em 16 regiões.
Em junho de 2023, os preços de habitação, despesas pessoais, vestuário, saúde, cuidados pessoais e educação subiram, enquanto que os preços de transporte, artigos para residência e alimentação caíram. Se verifica as variações de preço de cada grupo da pesquisa e se atribui a importância (peso) de cada um no cálculo da inflação. Ou seja, em média os preços caíram mais do que subiram 0,08% em junho em relação a maio de 2023.
Estes preços foram pesquisados pelo IBGE no varejo, portanto no supermercado, no posto de gasolina etc. Os preços do atacado, aqueles nas fábricas e distribuidoras, já tiveram deflação em quatro meses neste ano; fevereiro, abril, maio e junho acumulando deflação de 6,86% até junho pelo IGPM (Índice Geral de Preços ao Mercado), que é calculado pela Fundação Getúlio Vargas. O IGPM é um outro índice que apura a inflação de uma outra forma. Ambos têm uma metodologia rigorosa, mas se destinam a prestar informações com objetivos diferentes. O primeiro é somente no varejo para famílias de 1 a 40 salários mínimos, o segundo apura variações de preços no atacado (60%), no varejo (30%) e na construção civil (10%).
Toda esta explicação para dar uma ideia de como são calculados os índices foi para demonstrar que a inflação do Brasil vem perdendo forçaem esferas diferentes a algum tempo. Há um ano, em junho de 2022, tínhamos uma inflação acumulada de 12 meses no atacado de 10,08%(IGPM) e no varejo 10,07% (IPCA). Em um ano, atingimos deflação nos dois índices. No atacado, a deflação começou em fevereiro e no varejo foi agora em junho, isto significa queda a de preços do atacado começou bem antes e só chego no varejo em junho, ou seja, começou a transmissão dos preços da fábrica para o balcão da loja.
A taxa de juros foi utilizada para fazer a inflação baixar. Quanto maior a taxa de juros, menor o consumo, pois fica mais caro a prestação dos financiamentos e maior o interesse em guardar dinheiro. Além disto, o dólar fica mais barato puxando para baixo o preço de produtos importados e de produtos exportáveis como o a soja, o açúcar e a carne.
O responsável por determinar a taxa de juros básica da economia chamada de “taxa Selic” é o Banco Central, que apesar de ser do governo, pode tomar decisões com independência do restante do governo federal. A taxa de juros atual de 13,75% ao ano reduz a atividade econômica e, portanto, o faturamento das empresas e o nível de emprego.
Mesmo que aparentemente nocivo, era necessário controlar os preços, porque o descontrole é o caminho para hiperinflação, que em pouco tempo, se demonstraria muito mais nociva para a população do que as dores de a controlar antecipadamente. Mas agora, que os preços do atacado estão sendo transmitidos para o varejo e que importantes reformas como a tributária e o arcabouço fiscal estão caminhando com mais firmeza, se abre uma nova perspectiva. Está na hora dos juros começarem a cair.
Paulo André de Oliveira é Professor da FATEC – Botucatu (SP)
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