Inflação particular e os índices

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Inflação particular e os índices 17 janeiro 2018

Paulo André de Oliveira

A importância dos índices de inflação, divulgada pelo governo e institutos de pesquisas, é na sua utilização  para corrigir contratos e salários. Em 2017, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 2,95%.  A inflação pode ser definida como um aumento generalizado e contínuo nos preços.

Quando se diz generalizado significa que não basta um produto ter seu preço aumentado, pois um índice considera uma grande quantidade de bens e serviços para ser calculado. Estes bens e serviços também não são aleatórios, na verdade cada um deles foi estabelecido para compor o índice, por meio de uma pesquisa anteriormente feita, chamada Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). Esta pesquisa considera os hábitos e gostos do consumidor e sua faixa de renda durante certo período de tempo em que o participante da pesquisa, anota cada gasto feito pela família para que se atribua um peso de cada item ao orçamento familiar.

Na economia de um país, não se consome apenas um produto, mas sim um conjunto de bens e serviços adquiridos no mercado. O nível geral de preços da economia deve ser, portanto, uma média dos preços dos bens transacionados no  mercado consumidor.

Como esta média de preços não pode ser calculada diretamente (diante da grande quantidade e variedade de bens e serviços), para estimar o comportamento dos preços utilizam-se índices de preços elaborados a partir de uma cesta média de consumo de bens e serviços das pessoas e famílias. O consumo das famílias difere entre regiões, faixas de renda e se modifica ao longo do tempo.

A atualização metodológica realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em janeiro de 2012, a partir da consolidação dos dados da POF 2008-2009, é um procedimento planejado e necessário para se atualizar e calcular o mais corretamente possível os índices de preços em qualquer país. O índice oficial do Brasil é o IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) considera, por exemplo, que o brasileiro gasta 23,12% de sua renda em alimentação e bebidas, enquanto que o INPC (índice nacional de preços ao consumidor) atribui um peso de 28,27%. Ambos são calculados pelo IBGE e mesmo assim os pesos são diferentes o que resultará em inflações também diferentes.

Como se pode perceber, os inúmeros índices de inflação, calculados pelos mais diversos órgãos não conseguem atingir um número em comum. Isto ocorre porque se utiliza metodologias diferentes. As diferenças de metodologia ocorrem porque se pretende atingir populações diferentes, ou seja, com características diferentes de renda e hábitos, ou ainda se esta ocorrendo variações de preço no atacado ou no varejo.

O índice oficial do Brasil (IPCA) tem como população-objetivo as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 (um) e 40 (quarenta) salários-mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, e residentes nas áreas urbanas das regiões (isso equivale a aproximadamente 90% das famílias brasileiras). A questão é que a faixa de renda é muito ampla o que poderia afetar o índice. Contudo, o mesmo índice novamente pondera a renda das famílias, isto significa o peso é maior para as faixas de renda de maior quantidade e assim sucessivamente diminuindo o peso para as faixas de renda de menor incidência. Assim existe a ponderação do hábito e gosto dos consumidores e de cada faixa de renda.

O IPCA divulgado pelo governo e utilizado nas metas inflacionárias considera famílias até 40 salários mínimos, porém é possível saber como cada faixa de renda esta sendo impactado pela inflação e assim determinar a inflação por uma faixa de renda bem mais estreita e não apenas pela faixa de 40 salários mínimos. Por outro lado se utilizarmos o INPC terá um valor de inflação diferente, pois este utiliza uma faixa de 1 a 5 salários mínimos.

Desta forma, cada índice atende a um público diferente dentro de um rigor metodológico para aquela situação. Independente da metodologia,  cada pessoa tem um índice de inflação particular, ou seja, como cada um tem um hábito de consumo logo a inflação é diferente para cada um. Por exemplo, quem utiliza condução própria para se locomover sofre uma inflação maior, devido a alta de combustíveis, do que quem utiliza transporte público.  Para se escolher o índice adequado é preciso saber qual a população alvo para que, por meio do conhecimento de suas características, se utilize o índice mais apropriado.

 

Professor da FATEC

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