A estabilidade dos preços da carne de churrasco

Colunistas
A estabilidade dos preços da carne de churrasco 17 julho 2019

Por Paulo André de Oliveira

Paulo André de Oliveira

Nem sempre a estabilidade queda de preços é uma noticia totalmente positiva. Pensando na lei da oferta e da demanda os preços caem por dois motivos que podem ser pelo  aumento da oferta por uma grande safra agrícola e redução nos custos de produção ou caem  pela redução da demanda com queda de renda e mudanças do hábito do consumidor. O primeiro motivo é virtuoso, pois gera mais emprego e renda, o segundo acontece por consequência do desemprego e baixa atividade econômica.

A notícia de que a carne de churrasco subiu menos de 2% nos últimos 12 meses,  bem menos que a inflação acumulada de 3,4%, parece ser uma notícia promissora, ou seja, até o preço do churrasco está sob controle. Bem, preços estabilizados,  em geral,  é uma boa notícia, mas o conjunto dos preços dos bens utilizados no cálculo da inflação pode mostrar muito mais do que vem ocorrendo na economia e na renda das famílias brasileiras.

O preço do contrafilé, por exemplo,  reduziu 0,5%, enquanto que o acém subiu 3,4%.  De fato, o preço do grupo de carnes foi bem comportado com alta de 1,6% de junho de 2018 a junho de 2019. Por outro lado, o grupo de aves e ovos não foi tão moderado,  teve alta de 10,29% com alta de 11% no frango inteiro e 17% em pedaços, portanto muito acima do índice de inflação do período.

Pensando na população como um todo, o brasileiro está substituindo um bem economicamente  normal por um bem economicamente inferior. Um bem economicamente  inferior é aquele em que sua procura aumenta com a queda de renda das famílias.

Não significa um bem ruim ou de baixa qualidade, mas sim que existe um bem mais sofisticado e com preço superior que ele pode  substituir. A carne bovina de segunda é um bem economicamente  inferior em relação a “carne de churrasco” e a carne de frango um bem economicamente inferior em relação a carne bovina.

A carne bovina subiu apenas 1,6%, porque houve redução em sua procura e pode-se notar que a carne de segunda subiu mais do que a carne de primeira dentro do grupo carnes devido a troca feita pelo consumidor que está com a renda menor. A carne de frango subiu 11% porque aumentou a procura, ou seja, as famílias substituíram a carne bovina pela carne de frango.

A leitura destas informações reflete a queda na renda das famílias brasileiras, sobretudo pelo alto índice de desemprego. A redução da demanda manteve estável o preço da maioria dos bens e serviços onde existe competição. O mercado de proteína animal é competitivo pelo grande número de produtores e possibilidade de substituição de um produto pelo outro.

A carne de frango subiu não por aumento dos custos de produção ou falta de competição, mas porque a queda da renda obrigou as famílias a procurar alternativas com mudança de hábitos. Mesmo que o preço da  carne bovina esteja comportado, ele ainda é bem superior à carne de frango.

A boa noticia da estabilidade nos preços  da carne de churrasco, infelizmente está acompanhada da  inanição da economia e suas mazelas como o desemprego  e a queda na renda das famílias. Talvez o intuito de se festejar esta estabilidade seja genuíno para apresentar um alento e algo de  positivo em um telejornal, e de fato seria ótimo, se o motivo fosse por um aumento na produção com redução de custos.

 

Professor da FATEC.

 

 

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