Mergulhando dentro do contexto social atual podemos nos deparar com situações onde o ser humano está perdendo seu espaço como individuo construtivo e protagonista de seu próprio caminho. Pensar diferente, ter um estilo próprio, questionar, dialogar, está se tornando cada vez uma dificuldade, como se autenticidade, personalidade própria fossem causa de conflitos e discussões intermináveis.
Interessante perceber que qualquer início de diálogo que proporciona pensamentos diversos, já é uma motivação de transformar este encontro em um monologo, onde um fala e outro deve permanecer calado e ouvir tudo sem poder questionar. Torcer para times diferentes é motivo de conflitos e agressões, onde não conseguem ocupar o mesmo local e é preciso pedir o uso da força para programar chegadas e saídas de estádios, escolta de torcidas e ainda conseguem dizer que são “torcidas organizadas”. Uma inversão de valores onde a importância começa a ser centrada em um pequeno mundo de interesses e não mais em torno do bem comum. Não é possível dialogar sobre pontos religiosos, pois cada religião precisar exercitar o seu único caminho de salvação e se trava batalhas em prol do proselitismo religioso, onde a fé se torna um mero produto de mercado; vidas são sacrificadas em nome de um “paraíso”…mas que Deus é esse? Visões unilaterais que impedem o outro de ser indivíduo, transformam o homem em uma mera estatística, o indivíduo se perde na massa coletiva. Protestam, se manifestam, gritam por fé, mas se dificulta de cada pessoa fazer o seu próprio caminho. Criam ideologias, mas não se constroem caminhos onde cada um possa decidir livremente como caminhar.
Uma das crises que enfrentamos em nossa atualidade é a impossibilidade que enxergar e aceitar o outro com tudo aquilo que possui para oferecer. A intolerância, em seu sentido pleno, nos mostra a falta de habilidade ou vontade em reconhecer, respeitar e dialogar com as diferentes crenças, opiniões ou estilos de vida. Dialogar é ter a capacidade de argumentar concretamente aquilo que se acredita e vive, longe de imposição e fazer com que o outro “engula” a minha verdade; aceitar pessoas com pontos-de-vista diferentes, criando uma abertura para interpretação, mas é difícil interpretar quando não se possui opinião própria, o sistema mais covarde é o ataque, quando o desafio seria a abertura para criar pontes. Discutir pacificamente realidades diversas é permitir falar e saber ouvir, pois a síndrome do papagaio apenas fala, ou melhor, apenas repete palavras decoradas e sem sentido, anulando a opinião alheia. Esta maldita intolerância e imposição de verdades pode cometer atrocidades no relacionamento social, por isso o preconceito, o racismo, falta de respeito com a liberdade de expressão do outro, se tornaram comum na vida cotidiana.
A minha verdade, a minha ideologia, a minha fé, não está acima da liberdade do outro de ser outro!!! Minha roupa, meu status social, meu sobrenome, não está acima do direito do outro ser outro!!! Torcer para este ou aquele time não está acima da possibilidade de dialogar com o outro!!! Minha adesão política partidária não está acima do diálogo político em prol do país que vivo!!! Minha conta bancária não está acima do respeito as classes!!! A cor de minha pele não está acima da dignidade das pessoas!!! Minha religião não está acima da liberdade religiosa!!! Sabem por que??? Simples…pois na essência somos todos seres humanos dotados de consciência, liberdade e capacidade de fazer o seu próprio caminho, sem ter que destruir o caminho de ninguém, sem ter que ofender ou prejudicar alguém. Somos livres assim como são livres todos que estão ao nosso redor, nossa liberdade deixa de ser livre quando atropela a liberdade alheia.
Padre Emerson Anizi
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