A área da antiga Estação Ferroviária de Botucatu foi cenário de um evento que reuniu três importantes gestos do Poder Público Municipal que marcam oficialmente o início das ocupações do Patrimônio Ferroviário no Município.
Há décadas a área de aproximadamente 8 alqueires, que pertencia à Rede Ferroviária Federal, ficou abandonada. Mas em 2010, após meses de negociação junto ao Governo Federal, a Prefeitura de Botucatu conquistou a cessão de uso por 20 anos dos imóveis localizados entre as regiões Central e Norte da Cidade.
O primeiro gesto resgata o passado. Com patrocínio da Duratex e incentivo fiscal do ProAC/ICMS (Programa de Ação Cultural) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, foi lançada a segunda etapa de restauração da Antiga Estação. As obras desta segunda etapa, orçadas em aproximadamente R$ 1 milhão, deverão durar oito meses e abrangem a recuperação total do saguão principal do edifício, incluindo o seu fechamento com vidraçaria.
Cúpula, parte do mezanino, escadarias, paredes, bar e piso do saguão principal serão recuperados em seu aspecto original, em todos os detalhes. Os banheiros serão adaptados às modernas exigências de acessibilidade, higiene e limpeza. Ao final dessa etapa, o prédio estará à disposição da Secretaria de Cultura para algumas atividades culturais.
A primeira etapa, iniciada em 2012 e que durou sete meses, contemplou a recuperação completa do telhado [madeiramento, telhas e calhas], da fachada principal, limpeza do saguão, preservação dos vitrais e instalação de alambrado ao longo da plataforma de embarque e desembarque de passageiros. Algumas peças em madeira inclusive foram higienizadas e submetidas ao tratamento contra cupins.
Por se tratar de um edifício tombado, todas as intervenções são realizadas após aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de são Paulo (Condephaat). A execução das obras fica por conta do Estúdio Sarasá, empresa especializada em restaurações. O projeto assinado pelo arquiteto Guilherme Michelin prevê ainda mais três etapas.
Durante e após as obras, o curso de Educação Patrimonial continuará a ser desenvolvido pela Producom Comunicação e Cultura em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, com exposição de fotos e documentos relativos à história da estação e da ferrovia e à sua importância cultural, econômica, social e política para os cidadãos de Botucatu.
Construída no século XIX [inaugurada em outubro de 1934] e desativada desde 1999, a Antiga Estação é um dos mais representativos marcos culturais e históricos de Botucatu. Foi ao redor da estação da FEPASA [antiga Estrada de Ferro Sorocabana] que um dos bairros mais tradicionais de Botucatu se formou: a Vila dos Lavradores, reduto das famílias dos ferroviários. Além dos serviços de transporte de carga, o local recebia centenas de passageiros que utilizavam o trem como principal meio de transporte.
“A Duratex acredita e investe na restauração [da antiga Estação Ferroviária] desde a primeira fase e seguirá apoiando todas as fases deste projeto até que a população botucatuense possa ter de volta a estação de trem que, em outros tempos, trouxe desenvolvimento econômico e reconhecimento para a Cidade”, discursou Edison Rocco, gerente da unidade da Duratex em Botucatu.
Casa da Juventude
Já quem vive o presente agora conta com a Casa da Juventude que leva o nome do “Professor Vinício Aloise”. Filho e neto de ferroviários, Benedicto Vinicio Aloise teve o desenvolvimento de Botucatu e a valorização da sua gente como foco permanente de suas ilustrações e caricaturas que enriqueceram diversas publicações .
A Casa da Juventude funcionará como a nova sede das sete oficinas do Atelier Cultura: desenho, xilogravura, fotografia, estamparia, aquarela, técnica de desenho e ateliê infantil. Também abrigará as aulas do Projeto Guri, que conta atualmente com 150 participantes.
Ela conta com sete salas para atividades [dança e teatro], grande espaço multiuso que será utilizado para apresentações culturais, sanitários com acessibilidade, vestiários masculinos e femininos, refeitório, biblioteca e sala de reunião.
O espaço também passa a abrigar o projeto cultural “Cineco”, ou também conhecido como “Cinema Ecológico”, patrocinado pela Duratex. Trata-se de um cinema com formato inovador, com moderno projetor com 3.500 lúmens e sistema de sonorização próprio para o local de exibição.
Entre os 200 títulos do acervo estão lançamentos do cinema mundial, animações, clássicos, filmes educacionais e documentários, atingindo o público jovem. Além de fomentar e difundir a “Sétima Arte”, o Cineco contribui para o resgate de ambientes públicos de socialização, garantindo o acesso gratuito das comunidades a filmes exibidos em grandes centros urbanos.
“A antiga Estação Ferroviária com o passar do tempo foi perdendo seu protagonismo. Mas enfim a Prefeitura prova mais uma vez que basta ter boas parcerias para que um sonho como esta revitalização não seja mais um caminho de ilusão. Este será um espaço vivo que distribuirá conhecimentos e pulsará emoções através da arte”, afirma o secretário municipal da Cultura, Osni Ribeiro.
Fundo Social
Por fim, o futuro do Patrimônio Ferroviário de Botucatu ganhou um novo elemento com o anúncio das obras nova sede do Fundo Social de Solidariedade do Município, que funcionará nas antigas oficinas de locomotivas do complexo ferroviário. O Poder Público irá investir R$ 2,4 milhões na recuperação do local. As obras deverão ser concluídas no prazo de 12 meses.
A intenção é que a futura sede do Fundo Social possa abrigar em um único espaço todas as oficinas de qualificação e geração de renda oferecidas através do projeto Criadores Solidários nas áreas de cozinha, beleza, construção civil, moda, acessórios e costura.
Além da ampliação do Criadores Solidários, a nova sede do Fundo Social ainda permitirá aumentar as ações e campanhas por meio de novas parcerias com empresas, instituições e órgãos da administração pública; estreitar relações com instituições beneficentes, ONGs e iniciativas comunitárias e individuais para empresas solidárias e pessoas voluntárias; e estabelecer novas parcerias para a captação de recursos.
O local contará com: salão multiuso; lavanderia geral; depósito de materiais; garagem coberta; sede administrativa; galpão para separação de materiais e peças de doação; amplas salas para as oficinas de costura e Escola de Moda; seis salas para Escola de Beleza; sala de aula teórica e canteiro de obras para a Escola da Construção Civil; sala para iniciação de oficinas de artesanato e múltiplas atividades.
“Por ano passam pelo Fundo Social mais de mil pessoas, que nos procuram para receber alguma orientação, se capacitar para o mercado de trabalho, fazer doações ou se colocar como voluntário. Acreditamos que o papel do Fundo Social é de poder, não apenas transformar, mas primeiramente acolher com qualidade as pessoas mais carentes, desde a primeira infância até a terceira idade”, comenta a presidente do Fundo Social de Solidariedade de Botucatu, Rachel Ferronato Cury.
Parceria
Para o secretário da Cultura do Estado de São Paulo, Marcelo Mattos Araújo, não há dúvidas de que Botucatu hoje é referência em cultura. “É um orgulho ver que Botucatu hoje possa contar com o Projeto Guri, as obras do Fórum das Artes que abrigará a primeira versão da Pinacoteca no interior do Estado, e mais uma edição da Virada Cultural Paulista que acontece neste mês de maio, entre outros programas. Isso demonstra toda a atenção que a gestão do prefeito João Cury tem dado à cultura, por entender que ela é elemento de desenvolvimento social”, enfatiza.
O prefeito de Botucatu, João Cury Neto, também não escondia a alegria de ver vivo outra vez o Patrimônio Ferroviário do Município. “Ocupar este espaço não foi fácil, até porque se fosse já teriam feito. Isso é fruto de muita articulação, de gente que está sonhando o mesmo sonho. Espero que os próximos prefeitos deem a continuidade a este sonho, que não é meu, mas sim de Botucatu. Essa primeira ocupação, com as obras de restauro da antiga estação e as atividades da Casa da Juventude, também já é um gesto que irá inibir o vandalismo, o uso de drogas e descarte de lixo neste local e que há tanto tempo incomodava a população”, argumenta.
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