Estudante do Supletivo faz entrevista com vice-prefeito

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Estudante do Supletivo faz entrevista com vice-prefeito 13 maio 2013

A estudante Valentina Alves Rocha da Silva, realizou uma interessante entrevista para a disciplina de Português do Curso Supletivo de Botucatu, com o vice-prefeito e ex-secretário de Saúde do Município de Botucatu, Antonio Luiz Caldas Junior, 61. O jornal Acontece, como maneira de homenagear e incentivar a estudante, pública o trabalho jornalístico por ela realizado.

Na primeira parte da entrevista Valentina procurou saber a formação acadêmica e teve como resposta uma biografia do entrevistado. “Vindo de escolas públicas, fiz o ensino médio no período noturno do “Colégio Estadual Canadá”, em Santos e ingressei na Escola Paulista de Medicina (hoje chamada UNIFESP, Universidade Federal de São Paulo), aos 18 anos, tendo concluído o curso de Medicina, em 1975. No ano seguinte mudei para Botucatu, para fazer Residência Médica em Saúde Pública. Nos anos subseqüentes, fiz cursos de especialização, mestrado e doutorado na USP (Universidade de São Paulo), todos na área de saúde pública. Sou médico e professor universitário e trabalho, desde 1978, como docente na Faculdade de Botucatu, da Unesp. Neste período exerci, por alguns períodos, cargos na administração pública, como secretário municipal de saúde, diretor regional de saúde, e outros em fundações ligadas ? Unesp, a FAMESP e a Fundação UNI, sempre na área da saúde”.

{n}Valentina – Como foi para o senhor ser secretário de saúde em Botucatu? Quais as inovações que foram implantadas e fizeram diferença para a população deste município?

Caldas -{/n} Participei ativamente, nos anos de 1970 e 80, de um processo chamado de Reforma Sanitária, quando os brasileiros, lutando para se livrar de uma ditadura militar, clamavam por um sistema de saúde que atendesse a todos, com igualdade e qualidade. Que promovesse a humanização do atendimento e a maior participação das pessoas, fossem os profissionais, fossem os clientes do sistema. Todo esse processo levou a formação do SUS, o maior sistema de saúde público do mundo. Nenhum país com mais de 100 milhões de habitantes possui um sistema público universal, ou seja, que atenda a todos, desde as atividades de prevenção e os casos mais simples, até os mais complexos e sofisticados, como os transplantes e outros de altíssimo custo.
A Inglaterra, que é um país rico, está há mais de 60 anos desenvolvendo um sistema semelhante, que hoje é um primor. O Brasil, ao contrário, é um país com muitas dificuldades econômicas, sociais, institucionais e políticas. Uma população ainda empobrecida e cheia de carências; basta ver o nosso IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, recentemente publicado. Pois bem, este é o cenário, de muitas adversidades em que o SUS vem se desenvolvendo. E posso dizer que avançamos muito, mas muito mesmo, nestes 20 e poucos anos. Podíamos ter feito mais, temos muito ainda a fazer, mas já avançamos bastante. E estou falando tudo isso, para dizer que minha missão ao virar Secretário de Saúde de Botucatu, não foi apenas dar o melhor de mim para aprimorar a saúde em nossa cidade, mas também participar, junto com tantos outros, da construção da maior política pública que nosso país já teve; um dos mais ousados e justos sistemas de saúde do mundo. Para um especialista em saúde pública, isto é um desafio e uma satisfação redobrada. A saúde em nossa cidade estava estagnada. Muitos problemas administrativos e jurídicos. Atendimento especializado e de urgência todo centrado na Unesp; financiamento muito precário.
A tarefa é e está sendo gigantesca, mas estamos caminhando: dobramos o orçamento municipal em saúde; construímos quatro novas unidades de saúde que, com certeza absoluta, são das mais bonitas, modernas e funcionais do país; conquistamos novos serviços junto ao governo federal e estadual; criamos um sistema municipal de urgência e emergência como o SAMU-192, o Pronto Socorro Adulto e um Pronto Socorro Infantil, exclusivo, trouxemos para cá um Hospital Geral Estadual e outro para Dependentes Químicos, cada qual com 80 leitos; um AME (Ambulatório Medico de Especialidades) e um Centro de Reabilitação da rede “Lucy Montoro”. Desapropriamos o prédio de um hospital de ferroviários que fechou suas portas. Algumas destas coisas já estão funcionando e outras ainda em instalação e construção. Criamos novos serviços, como a Clínica do Bebê, a Farmácia Municipal, o Serviço de Acupuntura, o Núcleo de Apoio ? Saúde da Família, a entrega de medicamentos em casa, chamado Dose em Casa, e muitos outros. Ampliamos consideravelmente o número de profissionais, especialmente médicos, e investimos em sua formação e aprimoramento.
São muitas conquistas, mas temos plena consciência de que ainda há muito a fazer, especialmente no aprimoramento dos serviços prestados como, por exemplo, a redução do tempo de espera por consultas e exames. Temos um grande desafio que é revolucionar a maneira como as pessoas são atendidas e tratadas. Todos os dias repetimos, para nós mesmos e para cada um dos funcionários da saúde, que temos o dever e a população o direito de ter um sistema de saúde acessível, humanizado e que atenda integralmente e com qualidade suas necessidades de saúde. Não sei quando alcançaremos isso ou até mesmo se um dia alcançaremos, mas é a visão de futuro que orienta cada um dos nossos passos, cotidianamente.
Isso não é trabalho de um prefeito, vice-prefeito ou secretário de saúde. É obra grandiosa que vem sendo executada com muita dedicação e competência por uma grande equipe de gestores e profissionais de saúde da Prefeitura, com a preciosa e fraterna colaboração da Fundação UNI, nossa parceira, cheia de jovialidade, garra e “amor prá dar”!
Sou muito apaixonado por tudo isso há mais de 40 anos, acho que deu para perceber pelo tamanho da resposta…

{n}Valentina – O que representou a sua reeleição junto ao prefeito João Cury? Quais suas expectativas para seu novo Governo?

Caldas {/n}- O nosso prefeito é um jovem, empreendedor e arrojado, com muita capacidade de trabalho e coragem para enfrentar problemas que as administrações anteriores colocavam debaixo do tapete. Elaboramos um ousado plano de governo, com muitos objetivos estratégicos e a reeleição significou a oportunidade para que pudéssemos concluir nossa parte neste grande projeto. Veja o exemplo da saúde, em que quatro anos seriam pouco para concluir tantas realizações, muitas ainda em andamento. Para dar um exemplo, vamos ter, com ajuda do governo estadual, a primeira Pinacoteca do interior paulista. Para isso construímos o novo fórum da cidade e o antigo prédio, obra de Ramos de Azevedo, que estava abandonado há uma década, está sendo reformado e será um centro irradiador de cultura para toda a região. Poderia dar muitos outros exemplos na área do esporte, da educação, da moradia popular. O povo compreendeu isto e nos reelegeu. Nossa expectativa é bem aproveitar estes novos quatro anos para consolidar o que já conquistamos e avançar, dando a nossa cidade aquilo que ele merece.

{n}Valentina – Qual o lugar do Estado de São Paulo que você mais gostou de conhecer e que pode deixar como dica cultural para mim e para meus colegas de turma?

Caldas {/n}- Vivo em Botucatu há 37 anos e gosto muito daqui. Mas existem outras duas cidades do Estado de São Paulo que me são muito especiais.
A primeira é a nossa capital, São Paulo. A despeito de toda a loucura e mesmo da violência que perturba a vida dos paulistanos, São Paulo é uma das maiores metrópoles do mundo e oferece muitas coisas especiais e lindas a quem queira e possa aproveitá-las. O comércio, a gastronomia, museus, parques, serviços de saúde, escolas, universidades, entretenimento, teatros, enfim tudo que alguém queira ou imagine querer encontrará em São Paulo. Não sei se eu aguentaria viver toda a vida por lá, mas vivi ótimos sete anos de minha juventude e acho que toda pessoa deveria ter a oportunidade de morar alguns anos em São Paulo, para aprimorar sua vida pessoal.
Se a turma de vocês tiver organização e coragem, valeria passar um fim de semana, de preferência prolongado, explorando tudo o que de bom a nossa capital tem a oferecer. Vale até uma passada no Brás, um sanduíche de mortadela no Mercado Municipal, umas compras no shopping e até um baile funk, sábado ? noite, no Jardim Elba… No domingo o Masp, o Ibirapuera e, se der, uma “escalada” ao topo do Edifício Itália, onde é possível deslumbrar-se com a grandeza de nossa capital.
Agora… deixei para o final uma terra que muito adoro. Já desgostei dela nos anos 70, judiada por mal governantes, praias poluídas e abandonadas, sujeira por todo lado. Mas hoje é um brinco, uma delícia para se morar ou passar temporadas. Estou falando de Santos, minha terra natal, que tem muito a oferecer a quem queira qualidade de vida e alegria.

{n}Valentina – Mencione um livro que o fez repensar a vida e que possa nos indicar?

Caldas{/n} – Li muitos livros na minha vida, especialmente na juventude, quando devorei centenas de livros sobre política, atualidades, história e outras coisas do gênero; sempre preferi obras sobre o “mundo real”, do que as de ficção. De ficção, me marcou “Robinson Crusoé”, que li e reli dezenas de vezes em minha infância e juventude. A versão recontada por Monteiro Lobato é uma preciosidade. Ali encontrei o apelo ? coragem, ? ousadia e ? busca do novo, do desconhecido. Mas minha principal paixão foram as biografias, o exemplo de vida dos lutadores da humanidade e alguns me impressionaram muito, como Che Guevara, Zapata e diversos brasileiros. Se puder recomendar um livro a vocês, leiam “A História da riqueza do homem”, de Leo Huberman, que nos permite entender como a humanidade se desenvolveu e porque vivemos ao meio de tantas injustiças. É bem antigo; foi escrito em 1936, mas teve muitas reedições, inclusive uma atual em que outros autores “puxam” a história até nosso Século XXI.

{n}Valentina – Você já deve ter viajado para muitos lugares, inclusive para o exterior. Existe algum país que gostou muito de conhecer? Por quê?

Caldas{/n} – Conheci alguns países, mas tenho carinho especial por dois. Um é Cuba, país lindíssimo, povo muito acolhedor e um clima de mistério, arte e sensualidade no ar. Um lugar realmente mágico. Já estive lá por cinco vezes e gostaria de voltar muitas mais (falta o dinheiro!). O outro país é Portugal, terra de meus antepassados; o país que eu escolheria para viver se um dia tivesse que deixar o Brasil. Estive lá uma única vez e me apaixonei. Até porque além de coisas lindíssimas e um povo muito afetivo, todos, curiosamente, falam a nossa língua e isso torna tudo mais fácil.

{n}Valentina – Deixe um recado para a turma do supletivo sobre a importância do estudo.

Caldas {/n}- O ser humano, dotado que é de inteligência, tem uma grande capacidade de fazer coisas, de enfrentar desafios, de criar, de se relacionar, de improvisar. Nascemos todos com esta capacidade. Mas não podemos esquecer que antes de nós vieram muitos outros, que descobriram caminhos, quebraram a cara, acumularam experiências e conhecimentos. O ser humano, como eu disse, tem uma grande intuição e capacidade de realizar, mas não tenho nenhuma dúvida que aquilo que fazemos com conhecimento, com uma base científica, com o que aprendemos e estudamos, é sempre muito melhor. Até as coisas mais simples. Todos nós podemos tocar um instrumento musical, todos podem cozinhar, dirigir um veículo, dar uma aula, escrever um livro, praticar um esporte, construir uma parede, ministrar um culto religioso, tirar uma foto, enfim, milhões de atividades humanas. Mas aquilo que se faz precedido pelo estudo, pela teoria e pelo treinamento prático, aproveitando todos os conhecimentos, erros e acertos da humanidade, sai muito melhor, é de muito melhor qualidade. E nesta sociedade competitiva em que vivemos, quem estuda terá mais possibilidades, abrirá novas portas. Estudar não como um dever, uma tarefa amarga. Mas estudar com prazer, como a possibilidade que se usufruir por meio da escola, do estudo, daquilo que outros suaram para produzir de mais precioso: o conhecimento.
Tudo podem nos roubar: a vida, a liberdade, o carro, o dinheiro. Tudo podem nos levar, menos nosso conhecimento e nossa competência. Ou melhor, o tal Dr. Alzheimer pode nos roubar isso um dia, mas até lá vamos estudar, e muito, e ter melhor condição de conquistar os nossos sonhos e a nossa felicidade! Obrigado e boa sorte a todos vocês!

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