Nos últimos dias, a movimentação tem sido intensa no Largo José Paulini, na Vila Jahu. Tudo por conta da reabertura da Estação Ferroviária que será devolvida ao uso da comunidade, depois de passar por meticuloso processo de restauração viabilizado pela Prefeitura de Botucatu. A cerimônia acontecerá nesta quinta-feira (22), às 19 horas, com a presença do prefeito João Cury; do deputado estadual Fernando Cury e demais autoridades.
Durante o evento será feita homenagem à memória do engenheiro Nelson Dib Saad, ex-superintendente regional da Estrada de Ferro Sorocabana e Gerente Regional da Fepasa, em Botucatu. Ele passará a denominar oficialmente o prédio da estação ferroviária. Estão previstas apresentações artísticas e musicais.
“Será uma noite cheia de surpresas e do reencontro da população com um dos maiores símbolos da cidade, que a partir da extinção da Fepasa, nos anos 90, passou por um acentuado processo de degradação. A ação firme do prefeito João Cury conquistando para o município a guarda do patrimônio ferroviário, foi determinante para a busca de recursos que viabilizaram a restauração do prédio da antiga estação”, declara o secretário municipal de Esportes, Lazer e Turismo, Antonio Carlos Pereira.
A recuperação das instalações permitirá o desenvolvimento de inúmeras atividades no local. Já há espaços destinados aos praticantes de ferromodelismo, para preservação da memória ferroviária, além da transferência da estrutura administrativa da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Turismo para o prédio. A Prefeitura também já trabalha para concretizar a concessão do espaço do antigo bar da estação para a instalação de uma cafeteria ou lanchonete. Também já existem conversas adiantadas para que um ônibus turístico faça roteiros pela cidade com partidas saindo da estação.
Recuperação
A restauração da estação ferroviária de Botucatu aconteceu em duas etapas. A Prefeitura de Botucatu contratou para execução das obras a empresa Estúdio Sarasá, especializada em restauração, que tem em seu portifólio trabalhos importantes como o projeto de restauro do Teatro Municipal de São Paulo e o restauro do solar da Marquesa também na capital paulista.
De acordo com o conservador restaurador Antonio Luís Ramos Sarasá Martin, o prédio da antiga estação apresentava vários danos e patologias e se não houvesse uma ação reparadora o imóvel poderia chegar a situação de ruína.
“A estação estava bem degradada. A cobertura totalmente deteriorada, as argamassas com soltura, problema de exposição dos próprios tijolos. Resgatamos inicialmente a sanidade do edifício e depois o próprio uso. Se nada fosse feito, em pouco tempo o prédio poderia entrar em situação de ruína. Os elementos estavam se desprendendo, caindo. Se deixasse muito tempo, logo teríamos o colapso da cobertura. Conseguimos resgatar muito do prédio. Mais um pouco seria impossível”, relembra.
“O prédio da estação tem um valor importante já que faz parte do desenvolvimento econômico e cultural da cidade. Será resgatado seu poder de relação com Botucatu e a Prefeitura agora coloca esse potencial à disposição da sociedade”, completa.
Na primeira etapa de restauro, iniciada em 2012, as ações contemplaram a limpeza e higienização do das instalações, recuperação completa do telhado, da fachada principal, limpeza do saguão e instalação de alambrado ao longo da plataforma de embarque e desembarque de passageiros. Algumas peças em madeira foram higienizadas e submetidas ao tratamento contra cupins. O projeto ainda contemplou um trabalho de educação patrimonial que será executado pela empresa Producom. A Prefeitura investiu em torno de R$ 400 mil e outros R$ 600 mil serão financiados pelas empresas Duratex e Caio Induscar através do Proac (Programa de Ação Cultural) do Governo do Estado.
Na segunda etapa toda a parte da cúpula foi restaurada além das paredes do saguão principal, que realçam os desenhos originais do século XIX, quando a Estação foi construída. Também foi feita a reparação do madeiramento que recebeu tratamento especial, que incluiu parte da estrutura do mezanino, portas e escadarias, e o piso superior que recebeu sinteco. Todas as salas foram recuperadas.
O prefeito João Cury acredita que os botucatuenses sentirão muito orgulho ao ver a estação inteirinha restaurada. “Trata-se da recuperação de um patrimônio que tem um significado muito importante não só para a família ferroviária mas para toda a cidade. Restauramos também o antigo armazém, onde hoje funciona a Casa da Juventude que tem recebido todos os dias, centenas de jovens que participam de oficinas culturais, inclusive o projeto Guri. Também estamos recuperando parte das antigas oficinas para abrigar a nova sede do Fundo Social. Com a reforma do mercadão, do fórum antigo que será transformado na Pinacoteca e da estação, estamos recuperando e restaurando alguns dos principais prédios históricos da cidade”, destaca.
História
O Complexo da Estação Ferroviária de Botucatu representa o avanço da Estrada de Ferro Sorocabana pelo interior paulista, demarcando a “conquista do sertão”, situado a oeste das cuestas. A chegada da ferrovia deflagrou novo momento econômico para a região, fomentando a produção agrícola, sobretudo o café, bem como a ocupação de terras e a criação de novos núcleos urbanos. O complexo se tornou ponto de confluência do tráfego da linha-tronco da EFS e de seus inúmeros ramais a oeste, impactando no desenvolvimento de Botucatu como pólo urbano regional.
O complexo é constituído pelos seguintes elementos: Estação Ferroviária; Largo da Estação; Armazém de Cargas; Vilas Ferroviárias e Casas de Turma, de variadas tipologias e técnicas construtivas; Caixa D’água; Edifício da Administração (ou da Chefia); Mercearia; Oficinas de Locomotivas; Escola de Artífices; Reservatórios D’água; Triângulo de Manobras; Pontilhão Ferroviário Arlindo Granado; e os muros de arrimo e taludes circundantes. Essa diversidade arquitetônica, tipológica e funcional dos edifícios indica a complexidade de um empreendimento ferroviário e os conjuntos de moradias à beira de linha registram formas de morar próprias à ferrovia.