
Os consumidores brasileiros podem enfrentar desabastecimento de carne bovina neste fim de ano. Além da disparada dos preços, há a possibilidade de escassez do produto em supermercados e açougues.
O aviso foi dado, dias atrás, por um dos maiores frigoríficos do país aos seus clientes: “Pensem uma maneira de estocarem as mercadorias [cortes] mais concorridas, pois este final de ano será atípico. Todo os frigoríficos do Brasil estão com dificuldades em terem seus estoques reabastecidos.”
Em Botucatu o consumidor final já percebeu que vai ter que gastar mais para garantir carne bovina na mesa. A semana começou com remarcação de preços em muitas casas de carne.
“Em nossa região há exatamente 2 meses o boi estava em média 10,80 kg (boi casado) ontem compramos a 15,50 kg, está difícil pra trabalhar assim. Os nossos clientes estão assustados”, disse a dona de um açougue em Botucatu, que pediu para não se identificar.
“Houve reajuste em todos os cortes, já que o boi está média 45% mais caro hoje. E o pior é que nossos fornecedores já nos avisaram que irá subir ainda mais”, lamenta a empresária
Os cortes populares são os que mais assustam: o acém esta sendo vendido em média em Botucatu por 19,99, a paleta a 24,90 e o patinho custa em média 26,90.
“No meu caso só trabalho com boi para desossar, mas tem açougues que vendem carnes embaladas, aí o aumento está exorbitante. Os restaurantes já irão repassar o preço para o consumidor final, com certeza”, finalizou.
A saída encontrada por alguns consumidores é buscar alternavas à carne bovina, como cortes de suínos e frango, que igualmente estão mais valorizadas por causa do incremento da procura.
Como explicar o aumento
Há vários fatores para que o churrasco possa virar um transtorno para os brasileiros na virada de ano. Entre eles, a falta de bovinos prontos para o abate, o período de entressafra e a demanda interna aquecida por carne bovina.
“Do lado da oferta de matéria-prima, a baixa disponibilidade de animais terminados enxuga os estoques da indústria”, disse a Scot Consultoria.
Some-se a isso o aumento das exportações de carne bovina, impulsionadas pelas compras chinesas, cuja demanda cresceu por causa do surto de peste suína africana, e pela ampliação de mercados. Dias atrás, o Brasil habilitou mais 13 frigoríficos para exportar para a China, além de oito para a Arábia Saudita.
Conforme a Scot Consultoria, o mercado da carne bovina tem tido altas consideráveis neste final de ano.
Também na quinta 14, o Cepea reforçou: “Levantamentos já têm verificado que a arroba chega a ser negociada por R$ 200,00 em algumas regiões do estado de São Paulo. O preço da carne negociada no atacado da Grande São Paulo tem atingido sucessivos recordes reais da série do Cepea, iniciada em 2001, desde sexta-feira 8.”
Abate de matrizes
A falta de bovinos prontos para a indústria foi provocada principalmente pelo abate de matrizes. “A participação da categoria nos abates aumentou nos últimos anos. Segundo o IBGE, as novilhas compuseram 14,8% do total de fêmeas abatidas em 2008, participação que aumentou para 24,4% em 2018. Em relação aos abates totais, elas compuseram 5,8% do total em 2008 e 10,2% da quantidade abatida no ano passado”, escreveu o veterinário Hyberville Neto, no site Pasto Extraordinário.
O cenário de alta nos preços da carne bovina já havia sido antecipado pela Abrafrigo em nota divulgada no fim de outubro: “O crescimento das exportações, a habilitação de novas plantas de frigoríficos para comércio exterior, a abertura de novos mercados e a oferta restrita de animais vêm provocando o aumento nos preços da carne bovina, principalmente a partir de agosto passado.” A tendência, assinalou a entidade, é que o consumidor continue pagando mais caro pelo produto.
Com informações de Agroemdia
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