Chegada de Leishmaniose visceral a Botucatu acende alerta para novos casos

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Chegada de Leishmaniose visceral a Botucatu  acende alerta para novos casos 14 outubro 2025

Veterinário da Unesp, Cassiano Victória, explica formas de transmissão, sintomas e desafios no controle da doença

A leishmaniose visceral, doença grave que pode atingir animais e seres humanos, já é uma realidade em Botucatu. A confirmação de casos caninos acendeu o alerta entre autoridades e profissionais de saúde, que reforçam a importância da prevenção.

O médico veterinário e docente da Unesp, Dr. Cassiano Victória, explicou, durante entrevista concedida ao “Primeiro Jornal”, da Prever FM (100.9), que a chegada da doença ao município era algo previsto, com base nos estudos de dispersão realizados nos últimos anos em São Paulo.

Segundo ele, o avanço da leishmaniose pelo Estado está diretamente ligado à mobilidade dos cães infectados.

“Lá pelos anos 2000, quando a política pública previa o sacrifício obrigatório de todo animal positivo, muitos tutores levavam seus cães doentes para outras cidades, tentando evitar a eutanásia. Esse movimento acabou espalhando a doença ao longo das principais rodovias, como a Marechal Rondon e a João Ribeiro de Barros”, relata o veterinário.

O vetor da doença é o mosquito-palha, um inseto minúsculo, quase imperceptível a olho nu, que se desenvolve em matéria orgânica em decomposição, como folhas, frutas e fezes de animais em contato com o solo. Diferente do mosquito da dengue, o mosquito-palha não se reproduz em água parada, o que torna seu controle muito mais difícil.

“Depois que o vetor chega, é praticamente impossível erradicá-lo. O município precisa aprender a conviver com ele”, afirma Cassiano.

Nos cães, principais hospedeiros urbanos, os sintomas da leishmaniose incluem fraqueza, emagrecimento, crescimento anormal das unhas e queda de pelos — especialmente ao redor dos olhos e focinho. Em humanos, a doença pode causar aumento do fígado e do baço, febre prolongada, perda de apetite e uma barriga inchada, comum em crianças.

O tratamento existe tanto para pessoas quanto para animais, mas não elimina completamente o parasita.

“Falamos em cura clínica, não parasitológica. O animal melhora, mas o protozoário continua presente, podendo voltar a causar sintomas se a imunidade cair”, explica o veterinário. Por isso, os cães tratados precisam ser monitorados por toda a vida e protegidos contra picadas do mosquito.

As coleiras à base de deltametrina 4% são hoje o método mais eficaz de prevenção. Outras medidas incluem manter os quintais limpos, remover restos de frutas e fezes do solo e proteger os animais, especialmente nos horários de maior atividade do mosquito — o amanhecer e o entardecer.

Cassiano também lembra que o tratamento é caro e prolongado, podendo chegar a R$ 5 mil. Quando os tutores não têm condições de manter o tratamento adequado, a eutanásia ainda é uma forma legal de controle da doença no Brasil.

“Botucatu vive um momento de alerta. Já temos o mosquito, a Leishmania e cães positivos. Historicamente, onde há casos em animais, os humanos aparecem logo depois. É hora de reforçar a prevenção e a conscientização”, finaliza o professor.

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