Cempas-Unesp, em Botucatu, alerta para aumento de atropelamentos de animais silvestres nas rodovias

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Cempas-Unesp, em Botucatu, alerta para aumento de atropelamentos de animais silvestres nas rodovias 12 novembro 2025

Centro recebeu 103 vítimas de colisões em 2024; maioria não sobrevive aos ferimentos e poucos conseguem voltar à natureza.

Os atropelamentos seguem entre as maiores ameaças à fauna silvestre no Brasil. De acordo com o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), cerca de 450 milhões de animais morrem por ano nas estradas do país, o que equivale a 15 por segundo. Mais de 90% das vítimas são de pequeno porte, como anfíbios, cobras e pássaros, mas a estimativa inclui 2,1 milhões de animais maiores, entre eles o cachorro-do-mato, o tamanduá-mirim e o tatu.

Em São Paulo, o cenário é ainda mais preocupante. Um estudo da USP, publicado no periódico Heliyon, aponta que quase 40 mil mamíferos de médio e grande porte são atropelados todos os anos nas rodovias estaduais. O estado possui a maior malha rodoviária pavimentada do país, com 31,2 mil quilômetros de extensão.

Em Botucatu, o problema é acompanhado de perto pelo Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens (Cempas), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ-Unesp). O local recebeu, em 2024, 103 animais vítimas de colisões com veículos, número superior ao registrado em 2023 (97) e 2022 (57). Do total, 71 não resistiram aos ferimentos.

O Cempas recebe, em média, 2 mil animais por ano, provenientes de diferentes situações. “A maioria é composta por aves. Em seguida vêm os mamíferos e, por último, os répteis”, explica a médica-veterinária Paolla Nicole Franco, que integra a equipe de atendimento. “Há muitos animais atacados por cachorros, vítimas de queimadas e aves que colidiram com vidros”, completa.

A equipe do Cempas é composta por dois veterinários e quatro residentes, sob coordenação da professora Sheila Canevese Rahal. O centro não dispõe de estrutura para resgatar os animais nas estradas; os atendimentos ocorrem a partir de encaminhamentos feitos por bombeiros, Polícia Ambiental, GCMs e concessionárias de rodovias.

Segundo Paolla, apenas 25% dos animais atendidos sobrevivem, e menos de 10% conseguem voltar à natureza. “Muitos chegam com fraturas graves, cegueira, surdez ou amputações, o que impede a reintegração à vida selvagem. Nesses casos, são encaminhados a zoológicos ou instituições mantenedoras”, explica.

O centro também acolhe filhotes órfãos, cujos pais morrem atropelados. Esses casos exigem cuidados prolongados e isolamento gradual, para evitar que os animais se acostumem à presença humana — o que compromete a reabilitação.

Além dos atendimentos, o Cempas também atua em ocorrências de risco, como resgates de onças ou outros animais silvestres que se aproximam de áreas urbanas. “Em alguns casos, o animal é apenas sedado, avaliado e devolvido imediatamente à natureza”, explica o veterinário Camargo.

A crescente quantidade de atropelamentos nas rodovias que cortam Botucatu — como a SP-300 (Marechal Rondon) e a SP-191 — reforça a importância da conscientização dos motoristas. Reduzir a velocidade e respeitar a sinalização em áreas de travessia de fauna pode evitar acidentes e preservar a biodiversidade da região.

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