Funcionários da Fundação Casa de Botucatu protocolaram na tarde desta quinta-feira, dia 29, através do advogado Leandro Gorayb, uma petição endereçada ao Juiz de Direito da Vara da Infância e Adolescência da Comarca de Botucatu, relatando as rebeliões que ocorreram na unidade no mês de junho e informando o real perigo de que uma tragédia ainda maior pode acontecer nos próximos dias.
No documento, o Ministério Público também é provocado. Há o pedido para que o juiz da Vara da Infância e Adolescência faça uma visita na unidade para entender melhor a urgência da situação. Na petição, termos como pânico, situação insustentável e premissa de desgraça maior dão o tom da gravidade. Os funcionários estão temendo pela própria vida.
Apenas 4 agentes para mais de 65 internos
Segundo relato dos funcionários, no período noturno são apenas 4 agentes para 65 internos, fato que faz os agentes temerem pela própria vida. Esse fato também foi relatado ao Poder Judiciário.
“Os agentes e sócio-educadores da Fundação Casa estão muito preocupados pela falta de segurança e temendo por suas vidas, pois já ocorreram duas rebeliões somente este mês e em ambas os funcionários foram agredidos. Eu fui procurado por eles, pois estão em pânico. Na rebelião do dia 28, um funcionário foi agredido mesmo depois de desmaiar, tendo o rosto desfigurado após espancamento. Eu denunciei essa situação calamitosa ao Poder Judiciário e o Ministério Público. A falta de funcionários chega a ser absurda, com apenas 4 funcionários para atender 65 internos no período da noite e sem proteção policial no entorno da unidade. A situação está insustentável e é prenuncio de uma desgraça maior”, disse ao Acontece Botucatu Leandro Gorayb, advogado que representa os funcionários.
Tentativa de homicídio
Na última terça feira, dia 28, um funcionário da Fundação Casa, ficou gravemente ferido no rosto após um princípio de rebelião na unidade. O tumulto começou quando um interno, de 19 anos, que seria da cidade de Dois Córregos, partiu para cima de um dos coordenadores da unidade, com uma escova de dente afiada artesanalmente.
Ele desferiu socos contra o funcionário, que perdeu os sentidos, caiu ao chão e continuou apanhando. Outros funcionários conseguiram retirar a vítima do espancamento e isolaram os internos. Na petição protocolada na justiça, os funcionários falam em tentativa de homicídio (veja foto).
“Isso era uma tragédia anunciada, todos foram avisados. Os internos disseram que iram aprontar novamente quando o GIR, Grupo de Intervenção Rápida, da Fundação, saísse. Eles foram embora ontem (segunda-feira), só ficaram 4 funcionários para tomar conta de 62 internos”, disse a fonte do Acontece Botucatu.
O GIR estava na cidade desde o último dia 04 de junho, quando houve uma rebelião, com saldo de 3 funcionários feridos. A direção foi procurada pela reportagem, mas ninguém quis falar sobre o assunto. Um e-mail foi enviado à assessoria de imprensa da Fundação, questionando o ocorrido. O funcionário atendido no pronto socorro passa bem, mas está bastante abalado psicologicamente.
Fundação Casa se pronuncia através de nota
Após o incidente da última terça-feira, 28, a Fundação Casa enviou uma nota, via assessoria de imprensa, ao Acontece Botucatu. Nela é descrito que o caso está sendo apurado pela instituição.
“A Corregedoria Geral da Fundação CASA instaurou uma sindicância para apurar o desentendimento que ocorreu entre um funcionário e dois jovens na manhã de terça-feira (28/06) no centro socioeducativo de Botucatu. A situação aconteceu por volta das 10h e foi normalizada pelos próprios funcionários da Fundação CASA. Os adolescentes envolvidos passarão por uma Comissão de Avaliação Disciplinar (CAD) para análise de eventuais sanções disciplinares a serem aplicadas. O funcionário foi encaminhado ao hospital e passa bem”, diz a nota.
Rebelião no começo de junho; relembre
A Polícia Militar e Guarda Civil Municipal registraram na noite deste sábado, 04 de junho, uma rebelião na Fundação Casa de Botucatu. Ao total 62 internos ficaram isolados no piso térreo, onde funcionam as salas de atividades, como cozinha, biblioteca, consultórios, etc. Entre os internos há menores e alguns maiores de idade.
Um pequeno tumulto teria começado por voltas das 17 horas, quando eles estavam na sala de TV e teriam reagido negativamente a uma ordem dos funcionários. Às 19 horas eles se rebelaram e entraram em confronto com os seguranças, que conseguiram trancar as grades, deixando os internos isolados. Não houve reféns. Todos os funcionários foram retirados do local no início do tumulto.
Funcionários feridos
Segundo relatos policiais e pessoas ligadas à unidade, apesar de não haver reféns, três funcionários ficaram feridos após confrontos com os internos. Um funcionário teve o nariz quebrado. Um outro agente de segurança sofreu ferimentos nos olhos e um terceiro feriu o pé ao fechar a grade que separa o pátio das demais áreas.
Segundo informações que foram apuradas pelo Acontece Botucatu, o descontentamento de grande parte dos internos teve início após a chegada de três menores que vieram de outras cidades. O clima teria ficado hostil nos últimos dias entre os internos. O tumulto só foi controlado com a chegada do GIR, Grupo de Intervenção Rápida, que veio de Avaré. Os agentes passaram a dialogar com os rebelados, através de uma porta de proteção.
Depois de muita conversa, o relógio apontava 21 horas quando as negociações chegaram ao fim e teve início a revista de todos os internos. Em grupo de 5 internos, eles deixaram o local isolado, passaram por um exame superficial com o enfermeiro da unidade e foram encaminhados aos dormitórios, que são dotados de portas de ferro com tranca externa. A reportagem do Acontece Botucatu acompanhou durante três horas as ações no local.
Internos quebraram tudo
Os assistidos quebraram vários departamentos como sala de computadores, cozinha e enfermaria. Durante a revista foi possível ver alguns internos ameaçando funcionários. Segundos relatos extraoficiais, constantemente há conflitos entre internos e funcionários. Ao total 10 viaturas da Polícia Militar com aproximadamente 40 pessoas foram até o local, entre Rocam, Força Tática e Comando de Força. A Guarda Civil Municipal também compareceu, assim como a polícia Civil, representada pela delegada plantonista.
“Fomos chamados após desentendimentos entre internos e funcionários. Viemos aqui para evitar uma possível fuga, pois o local é rodeado de mata. Fizemos todo o isolamento da área, com apoio da guarda municipal, e posteriormente acionamos o GIR, Grupo de Intervenções Rápidas, da Secretária de Administração Penitenciaria, que é responsável por entrar nesse tipo de unidade para restabelecer a ordem”, disse o Tenente Malagute da Polícia Militar.
A última rebelião na unidade da Fundação Casa de Botucatu foi registrada em abril de 2013.