Cultivo de uva para suco e vinho é avaliado em cidades paulistas; Botucatu e São Manuel trazem potencial para produção

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Cultivo de uva para suco e vinho é avaliado em cidades paulistas; Botucatu e São Manuel trazem potencial para produção 23 dezembro 2016
“O suco de uva puro, considerado 100% integral, sem a utilização de aditivos químicos, é encontrado apenas no Brasil’, diz o professor Marco Antonio Tecchio, do Departamento de Horticultura da Unesp de Botucatu, que estuda o comportamento do cultivo de uvas nas regiões de Botucatu, São Manuel, Jundiaí e Votuporanga.
“A avaliação do comportamento de cultivares de uvas para suco e vinho, desenvolvidas nestas regiões, é de extrema importância, pois fornecerá informações de grande interesse aos viticultores paulistas”, diz o pesquisador.
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A pesquisa avalia cultivares tradicionalmente utilizadas para a elaboração de vinhos ou sucos, como a Bordô, Isabel, Isabel precoce, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah e Sauvignon Blanc, além das obtidas pelos programas de melhoramento genético do Instituto Agronômico de Campinas como IAC 138-22, Máximo, IAC 116-31 Rainha, IAC 21-14 Madalena, e da Embrapa: BRS Violeta, BRS Carmem, BRS Lorena e BRS Cora. A previsão é que em janeiro de 2017, o professor apresente alguns dos resultados obtidos nas produções das áreas experimentais avaliadas.

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Nas áreas de Jundiaí e Votuporanga, o trabalho de cultivo das videiras iniciaram a partir do ano de 2009, no Centro de Frutas e no Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Seringueira e Sistemas Agroflorestais, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Já os trabalhos em Botucatu e São Manoel foram feitos em abril de 2013, com o preparo do solo, calagem, adubação e plantio das videiras. Foram utilizadas mudas enxertadas provenientes do viveiro Vitácea, sediado em Caldas, Minas Gerais.

Para o início de cada ciclo de produção, a videira necessita ser podada no final do inverno, sendo que, nas regiões em estudo, a poda foi realizada nos meses de agosto, após o período de dormências das videiras. Logo a após a poda, são avaliadas, semanalmente, os estádios fenológicos das videiras.  Segundo o pesquisador, a partir desses dados,  são calculados os números de dias entre a poda e os estádios de gema algodão, brotação, aparecimento da inflorescência, florescimento início da maturação das bagas e colheita.
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“Os estádios fenológicos podem ser úteis para determinar o adequado momento e o número de operações para as diversas práticas culturais, como a aplicação de fertilizantes, poda, aplicação de reguladores vegetais e agroquímicos, desbaste e colheita. Já na fase da colheita, são avaliados os aspectos produtivos e de qualidade da uva, como produtividade e dimensões de cachos e de bagas de uva”, explica ele.

Para reconhecer a qualidade da uva, elas são esmagadas e, com o suco obtido, são determinados a acidez titulável; o teor de sólidos solúveis; o pH e os açúcares redutores. “Estes parâmetros são de extrema importância para avaliar as características da uva para elaboração de suco ou vinho de qualidade. As uvas também são avaliadas quanto aos teores de polifenóis totais, flavonoides totais, antocianinas, resveratrol e atividade antioxidante”, avalia Tecchio.
Uma das questões apontadas pelo professor, é a importância destes compostos para a saúde humana. “Trabalhos na literatura demonstram alguns benefícios no consumo de suco de uva como: redução do  risco de coágulos no sangue; efeitos anti-inflamatório, melhoria cognitiva e da memória, manutenção do  colesterol à níveis saudáveis, menor risco de doença de Alzheimer, redução dos efeitos do envelhecimento, entre outros resultados”.
De acordo com Tecchio, as regiões de Jundiaí e Jales são importantes pólos vitícolas. Jundiaí responde por 67 % da produção de Niagara rosada. “Em função da alta especulação imobiliária no polo vitícola da cidade e da queda na rentabilidade da Niagara pelos viticultores da região, existe uma necessidade da diversificação de cultivares com a elaboração de suco e vinho para à agregação de valor à uva”, ressalta.
Em Votuporanga e Jales, a cultivar Itália é à base da viticultura na região, complementada por suas mutações Rubi, Benitaka, Brasil e Redimeire e, ainda, mais recentemente, pelo cultivo de uvas sem sementes BRS Vitoria, BRS Isis e BRS Nubia, cultivares lançadas pela Embrapa. No entanto, o alto custo de produção decorrente da grande demanda de mão de obra e de insumos, associado aos baixos preços na comercialização, vêm ocasionando redução da área plantada e a procura de alternativas para a região. “A cultivares de uva para suco e vinhopode ser uma alternativa para o viticultor da região, tendo em vista a possibilidade de agregação de valor na uva”, diz.
Botucatu e São Manuel, apesar da reduzida área de plantio e de produção, equivalente a 0,32% da produção estadual, tem demanda crescente pelos produtores da região, sendo que o cultivo da videira é uma boa alternativa.
Em um levantamento do Instituto Brasileiro de Frutas, no último ano, houve crescimento na venda de sucos de uva integral, ajudando, assim, o setor. De 2014 para 2015, a venda de vinhos de mesa aumentou apenas 2%, enquanto que o de suco integral cresceu 31% no mesmo período. Em 2014, enquanto a economia retraída do país puxou a comercialização de vinhos para baixo, com queda média de 4,1%, o mercado do suco de uva seguiu em alta de 13,5%.
Ainda, de acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a média de consumo anual  per capita do brasileiro para sucos e néctares é de 5,5 litros, enquanto que na Alemanha, a média é de 37,5 litros.

Produção brasileira 

O Brasil é o 19º produtor mundial de uva, com produção em 2015 de 1.505.654 toneladas em uma área de 79.017 ha. Os principais Estados produtores são: Rio Grande do Sul, Pernambuco, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Bahia, respondendo, respectivamente à 55%, 17%, 11%, 6%, 5% e 4% da produção nacional.

Em 2012, a produção de uvas destinadas ao processamento (vinhos, sucos e derivados) foi de 830,92 milhões de quilos, o que representa 57,07% da produção nacional.

O Estado do Rio Grande do Sul se destaca na produção e comercialização de vinhos e sucos de uva e derivados, sendo responsável por 90% da produção nacional. Em 2013, o Brasil exportou o equivalente a 4.212 toneladas de suco de uva, principalmente para o Japão, para onde foram destinados 3.535 toneladas do produto. No entanto, o Brasil ainda importa suco dessa fruta, sendo que em 2013 o total importado foi de 1.064 toneladas.

O projeto tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp de Botucatu, são parceiros da pesquisa, o Centro de Frutas e o Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais, do Instituto Agronômico (IAC), e a Estação Experimental de Viticultura Tropical, da Embrapa, em Jales.

Pela Faculdade de Ciência Agronômicas da Unesp de Botucatu, o estudo conta com a colaboração de seis pesquisadores; oito alunos do Programa de Pós-graduação em Agronomia/Horticultura; e cinco alunos da graduação.

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