Casa vive para apoiar o dependente químico

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Casa vive para apoiar o dependente químico 08 junho 2013

Fotos: Luiz Fernando

Alameda João Caetano da Silva, nº 15, região do Jardim Europa. Esse é o endereço da Casa Diart´s de Botucatu, entidade instalada em uma chácara e presta apoio ao dependente químico, fundada em 2002 e administrada por Alberto de Azevedo Pinheiro. A Casa que tem, atualmente, 12 pessoas buscando a cura (a maioria por vício no crack e alcoolismo) difere de outras entidades por alguns detalhes distintos: portão permanece sempre aberto, não tem portaria, nem funcionários.

De acordo com Alberto Azevedo a idéia de se criar uma entidade dessa magnitude partiu de sua própria experiência de vida. Depois de permanecer internado em uma clínica em Americana em razão do alcoolismo, por três anos, entendeu que como foi ajudado, poderia passar essa experiência e auxiliar outras pessoas com dependência química.

“Fiquei deslumbrado com a forma de tratamento que recebi e tomei como projeto de vida ajudar pessoas com esse mesmo problema. Sei o quanto a dependência é difícil e o quanto custa ao dependente ficar longe das drogas. Quem mais sofre com o problema é família. E o mais importante é que a pessoa tem que querer se ajudar”, frisa.

Sobre a Casa permanecer aberta Azevedo é taxativo. “Não adianta ter muros altos e cercas eletrificadas. Se o dependente não quiser se ajudar não adianta. Quando entra aqui tem que ter na consciência de que veio em busca de sua cura e os desafios que terá que enfrentar para lutar contra sua dependência. É recebido por todos que estão aqui, sabendo que o portão permanecerá aberto e se quiser ir embora ninguém vai impedir”, conta.

O maior segredo da Casa Diart´s é procurar diminuir a ociosidade contando com muitas atividades que são desenvolvidas, assim como ensinamentos de marcenaria, serralheria, solda, alvenaria, pintura, cultura (teatro e música), artesanato, informática, culinária, horta, pomar, entre outros. “Todas as melhorias da Casa foram feitas com materiais recicláveis por pessoas que passaram por aqui para tentar se curar, pois não recebemos verba de nenhum órgão governamental, nem temos funcionários. Tudo é feito na base da doação, parceria e contribuição dos familiares dos dependentes, pois também temos contas a pagar como energia, água e supermercado”, disse.

Entre os exemplos da Casa está a cozinha artesanal, onde são feitas as refeições e os dependentes recebem curso de culinária. “Essa cozinha foi toda construída com materiais recicláveis ou sobras de construção, em parceria com a Tereza Telles, que é especialista em culinária artesanal e nos dá apoio voluntário. Tudo que conseguimos aqui ao longo desses anos tem o toque dos próprios dependentes. Quem quiser conhecer o trabalho que aqui é desenvolvido é só nos procurar”, convida Azevedo. “Quem quiser também pode nos ajudar com cesta básica e materiais de construção”, emenda.

Ele adianta ao longo dos anos, como administrador da Casa passou por diferentes experiências. “As pessoas que passaram por aqui, que estão aqui ou que ainda passarão por aqui vivem no fio da navalha. Cada caso é tratado de maneira isolada. A droga, principalmente o crack, está disseminada e é muito fácil conseguir. Para uma pessoa se iniciar no vício é muito fácil, mas sair dele é que é o problema. E não podemos esquecer que é, cientificamente comprovado, que muita gente traz a dependência na linha genética, ou seja, já nasce dependente”, diz.

{n}A difícil volta por cima{/n}

Para o dependente, o retorno ao convívio social cotidiano é um desafio diário que exige muita determinação e força de vontade. Não são raras ? s vezes em que procura ajuda, passa um determinado período e depois vai embora. “Como eu disse: aqui não seguramos ninguém, mas é necessário ter cuidado. Não podemos permitir, em hipótese nenhuma, que entorpecente entre na Casa. Estamos atentos a isso. Já tivemos problemas desse tipo, mas foram raros”, lembra Azevedo.

Entre os que buscam a cura está um senhor de 53 anos de idade que já experimentou diferentes tipos de drogas e esteve na Casa Diart´s outras vezes. Diz que está há sete meses sem se drogar e a única coisa que não conseguiu largar foi o cigarro. Lembra que começou a beber com sete anos de idade.

“Na adolescência, além da bebida (cachaça) passei para a maconha, depois cocaína e, finalmente, o crack que me deixou no fundo do poço e nem banho tomava. Minha família se envergonha de mim e com razão. Já estive aqui outras duas vezes e sempre fui tratado com muita humanidade. Há sete meses cheguei aqui em situação degradante, muito pior do que um mendigo. Hoje estou bem e só tenho um pensamento: nunca mais usar drogas. Está sendo difícil, mas venci a pior fase”, garante.

Com 23 anos, usuário de crack e mantendo o vínculo familiar, um jovem buscou a Casa para se reencontrar consigo mesmo. Conta que foi nas baladas que começou a beber e fumar maconha. Daí para o crack foi um pulo. Passou a usar com freqüência e abandonou o convívio social e os estudos.

“Felizmente minha família, em momento algum, me abandonou e me ajudou em tudo, apesar de estar sofrendo com minha situação de dependência química. Vim para a Casa e estou me recuperando, mantendo contato, por telefone, com meus familiares. Tenho certeza de que poderei sair dessa e concluir minha Faculdade. Se não fosse esse apoio que recebi de minha família, não sei o que seria de mim”, reconhece.

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