Aldo Quintão celebra 1ª missa anglicana em Botucatu

Geral
Aldo Quintão celebra 1ª missa anglicana em Botucatu 05 junho 2013

O reverendo Aldo Quintão, da Igreja Anglicana, estará em Botucatu nesta quinta-feira (6) para celebrar a 1ª Missa Anglicana da cidade. A cerimônia religiosa acontece na sede da Igreja Anglicana de Botucatu, na Rua João Lumina Júnior (antiga Rua 12), na Cohab I , a partir das 19h30.

Quintão que já foi padre e frade da Igreja Católica, mas não se adaptou a alguns preceitos da doutrina e em 1998, ordenou-se padre anglicano e passou a ser conhecido no Brasil inteiro e é o religioso que mais faz casamento no Brasil: cerca de 300 por ano. Seus cultos são transmitidos ao vivo pela internet e despertam fiéis em muitas regiões do país, porque fala tudo o que pensa. Assim, sua personalidade serviu para consolidar a fama de ser um religioso polêmico e mostra isso em suas entrevistas.

{n}Vocação{/n}

Quando eu tinha uns 10, 11 anos, pensava em ser padre. Achava bacana todo mundo reunido na igreja, rezando, falando das suas lutas, das suas alegrias, incertezas, vitórias, derrotas… Fiquei com aquilo na minha cabeça. Mas como a gente era muito pobre, era difícil poder imaginar que alguém da família iria estudar, mas continuei com esse sonho. Aos 16 anos, eu fazia “bicos” nas feiras livres de Taguatinga. Assim, juntei um dinheiro, comprei meu enxoval e no mesmo ano pedi minha entrada no seminário dos padres carmelitas. Em 1979, saí da casa dos meus pais e fui atrás do meu sonho. Entrei no seminário Nossa Senhora do Carmo de Itu (SP). Fui fazer o colegial, que a gente chamava de seminário menor, e ao final, no ano de 1981, fui para o Nordeste, onde fiquei dois anos estudando, e mais dois em Curitiba. Depois, fui para São Paulo. Eu já era então um frade e, assim, realizei meu sonho de poder ser um religioso.

{n}Mudança{/n}

Senti, aos 24 anos, que algumas coisas que eu pregava e dizia não eram condizentes com a realidade da sociedade e nem com aquilo que eu pensava. Comecei a lidar com muitas pessoas e vi seu sofrimento. Vi que elas, muitas vezes, vinham de outras cidades, não eram casadas e não tinham como fazer o casamento, só viviam juntas, não conseguiam contingenciar o número de filhos, sustentar a família numerosa… De repente, eu representava uma instituição que não dava espaço para essas pessoas, que não podiam participar da Igreja. Já esta, por sua vez, não pode limitar o número de filhos, porque a ciência não é bem vista por ela, nem o estudo das células-tronco… Isso tudo não estava batendo com o que pensava. Então, deixei a Igreja e fiquei com minha vida de professor, ministrando aula nos colégios Pio XII e São Luís dos Jesuítas, em SP. Tive sucesso social e econômico, mas voltou a me dar um vazio na vida. Podia viajar nos fins de semana para descansar, mas não era aquilo o que eu queria.

{n}Anglicana{/n}

Comecei a namorar a Ana Paula, minha primeira namorada. Eu também fui o primeiro namorado dela. Depois de quatro anos, em 1988, nós nos casamos. Em 1989, tivemos nosso primeiro e único filho, Leonardo. Continuei trabalhando na educação. Eu estava muito bem na minha vida familiar, mas continuava com aquele vazio. Não poderia voltar a igreja, porque ela não admite padres casados. Aí, eu conheci a Igreja Anglicana. Aliás, eu fiz um percurso por várias igrejas (protestantes, evangélicas…), estudando e avaliando para tomar uma decisão para não me sentir descontente de novo. Não era um problema das igrejas e nem da norma, porque o problema era meu, em qual igreja eu me situaria. Passei a estudar a teologia anglicana e pedi para fazer parte do clero.

{n}Diferenças{/n}

Descobri esse jeito de ser de uma igreja que acolhe, que ama e que não é punitiva. Encontrei um Deus que não persegue, que não fica vigiando, mas amando, cuidando e zelando, e comecei a falar disso para as pessoas, sem grandes teologias e filosofias, porque o mundo não precisa disso. Podemos ter acesso a tudo, mas isso não garante nossa felicidade. Nós precisamos é de amor, carinho, um local onde possamos ter paz, harmonia, acolhimento, como minha casa, onde eu vivia quando era criança. Nós éramos nove e faltava tudo, mas a gente não ligava, porque o importante não faltava: tínhamos amor e carinho. Dividíamos o pão, o arroz e o feijão da mesma forma que dividíamos o amor, o perdão e a reconciliação. O bem-estar está dentro da gente quando estamos com este Deus maravilhoso.

{n}Aborto{/n}

Se você perguntar para qualquer pessoa e, em especial, para qualquer mulher, ninguém é a favor do aborto. O aborto não é maravilhoso, fantástico, gostoso. É igual quando você vai fazer um tratamento dentário. Quem é que gosta de ir ao dentista, de ter um dente obturado ou fazer um canal? Mas é uma situação que, ? s vezes, é necessária para a saúde. A questão do aborto pertence ? área de saúde pública. É absurda a quantidade de mulheres que morrem neste país por causa dos abortos clandestinos. Então, descriminalizar o aborto não é uma questão de fé e de Igreja, mas de saúde pública.

{n}Homossexualismo{/n}

Sou a favor da descriminalização. Por exemplo, sou a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Estou falando como cidadão, como uma pessoa civil. Agora, se a Igreja quer pregar que não haja a união, tudo bem. Conheço jovens, homens e mulheres, que foram expulsos de casa pelos pais porque eram homossexuais. Eles vão lutar, trabalhar, construir uma vida, ter seus bens patrimoniais e, de repente, se eles morrerem, a herança deles fica para quem os colocou para fora de casa, para quem não quis ser pai ou mãe deles, para quem tratou aqueles seres humanos como aberrações. Então, que eles tenham o direito de dizer para quem eles vão deixar aquilo que eles amealharam em uma vida de lutas, seja seu companheiro ou sua companheira. É uma questão civil e de amor também. Hoje, a ciência já mostra que ser homossexual não é ser doente. Muitas vezes, a pessoa nasceu assim. Eu duvido que Jesus Cristo diria: “Não quero você, não aceito você”.

{n}Política{/n}

Sou a favor que as igrejas incentivem pessoas sérias, honestas e corretas a disputar cargos políticos, até para melhorar a sociedade. Bons advogados, médicos, economistas, professores, jornalistas. É meu jeito de pregar, de trabalhar, de falar na igreja, minha forma de ser: claro e transparente. Quando fundei o Instituto Anglicano para ser o braço social da igreja, construí quatro creches com trabalho e esforço da comunidade e da igreja. As creches atendem a 620 crianças, com 3.100 refeições diárias, em convênio com a Prefeitura Municipal de São Paulo. Faço isso porque faz parte de minha história. Teria sido muito importante se minha mãe tivesse tido a oportunidade de nos colocar, eu e meus irmãos, em uma creche, para que a gente tivesse quatro, cinco refeições por dia, além de educação, cultura e convivência melhor com outras crianças. Não tivemos essa oportunidade, mas fui abençoado para que pudesse fazer isso.

{n}Casamento{/n}

Todos são bem-vindos na igreja anglicana, inclusive gays assumidos, divorciados e fiéis desiludidos com outras religiões. O mundo moderno é marcado por uma sociedade plural. Na minha leitura do Evangelho, todo mundo tem o direito de ser feliz. Aqui, as pessoas sentem que as diferenças são respeitadas. Já fiz mais de 3.000 casamentos, 90% em São Paulo. Casei evangélicos, hindus, judeus, muçulmanos, grávidas, desquitadas e por aí vai. Casamento gay? Farei assim que a lei permitir.

{n}Polêmico{/n}

Não sou polêmico, não carrego bandeira, apenas defendo a humanidade, as pessoas. Não procuro usar do medo e da coerção para que a pessoa vá ? igreja. Eu vou por amor a Deus, por temor, quero ter paz, viver bem e desejo que meu próximo também tenha paz. Seja ele rico, pobre, preto, branco, homem, mulher ou gay, todos têm o direito de estar com Deus. Cada um tem sua história de vida. Não adianta querer fazer da humanidade uma coisa homogênea, porque ela não é homogênea: é heterogênea, é plural! Existem pessoas que gostam de ir ? igreja e ficar meia hora, 40 minutos, em absoluto silêncio; outras já gostam de guitarra; outras ainda preferem música clássica… Assim é a vida! Eu vivo na sociedade, e ela precisa de normas, de leis e regras, existem as convenções, mas elas não existem para amarrar as pessoas

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